BRASÍLIA - O presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE), senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), afirmou estar perplexo e indignado com as novas denúncias de espionagem do governo americano contra o Brasil. O senador afirmou que a CPI para investigar o caso já foi instalada e deverá entrar em funcionamento esta semana no Senado, o que dará ao Congresso maiores poderes para investigar os fatos. Reportagem do “Fantástico”, exibida ontem, mostra que a Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (NSA) monitorou o conteúdo de telefonemas, e-mails e mensagens de celular da presidente Dilma Rousseff e de um número ainda indefinido de “assessores-chave” do governo brasileiro.
— Estou com um misto de perplexidade e indignação. Parece que não há limites. Quando o próprio telefone da presidente da República é interceptado, é difícil imaginar o que pode estar acontecendo. Mais que nunca, essas denúncias confirmam a necessidade de investigação a essa absoluta quebra da soberania nacional. É inadmissível que, num país como o nosso, em que não há qualquer ambiente de terrorismo, haja esse tipo de espionagem. A CPI nos dará instrumentos para aprofundar as investigações e reforçaremos o convite ao ministro Cardozo e ao embaixador americano para esclarecer os fatos — disse Ferraço.
Para o senador Wellington Dias (PT-PI), líder de seu partido no Senado, é um contrassenso que os Estados Unidos, como defensores da democracia, atuem dessa maneira. O senador afirmou que a Comissão de Relações Exteriores (CRE) irá se reunir para tomar providências a respeito do novo episódio de espionagem do governo americano.
— Esse tema é uma vergonha. É inaceitável que a nação que tanto se vangloria de ser a primeira democracia constitucional do planeta, guardiã da democracia no mundo, atue com um completo desrespeito aos parâmetros mínimos de respeito à soberania dos outros países. Não se sabe se por interesse econômico ou político, os Estados Unidos estão bisbilhotando o Brasil e outros países e temos que ir a fundo para encontrar mecanismos que evitem que isso se repita. Isso será tema de reunião na Comissão de Relações Exteriores novamente — apontou Wellington.
O líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes (SP), também criticou o que chamou de agressão contra o Brasil. Para o senador, o país deve reagir de forma contundente para demonstrar seu repúdio à espionagem. Aloysio destacou ainda que esses fatos demonstram que o Brasil precisa se aperfeiçoar tecnologicamente para evitar intervenções do tipo.
— Mais que nunca, isso mostra a necessidade de o Brasil ter um sistema de contraespionagem eficaz para evitar que isso ocorra. Tenho horror a espiões e a espionagem. É muito grave, considero uma agressão. Imagine se fosse o contrário, se o Brasil estivesse espionando o presidente Barack Obama, qual seria a reação. Esse fato é extremamente agressivo e deve ser repudiado pela presidente Dilma e por todos nós — defendeu Aloysio.
Além de Dilma, também foram espionados pelos americanos nos últimos meses o presidente do México, Enrique Peña Nieto, — quando ele era apenas candidato ao cargo — e nove membros de sua equipe. As informações foram reveladas ontem pelo “Fantástico”, que teve acesso a uma apresentação feita dentro da própria NSA, em junho de 2012, em caráter confidencial. O documento é mais um dos que foram repassados ao jornalista britânico Glenn Greenwald por Edward Snowden, técnico que trabalhou na agência e hoje está asilado na Rússia.
OAB considera monitoramento uma afronta
O presidente da OAB, Marcus Vinícius Furtado, disse nesta segunda-feira que a monitoração de telefonemas, e-mails e mensagens de celular da presidente Dilma Rousseff e assessores-chave do governo brasileiro é uma afronta à soberania do Brasil. Para ele, o país deve representar contra os Estados Unidos na ONU.
"Uma afronta à soberania do Brasil, além de significar uma quebra da confiança que deve haver entre duas nações que possuem relacionamento civilizado. Tal constatação reforça o poder-dever do Estado brasileiro de representar à ONU contra os Estados Unidos", afirmou.
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